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Entrevista
Júlio Medaglia
Polêmico, sem “papas na língua”, inovador, perfeccionista... São vários os adjetivos que cabem para nosso Maestro. Numa conversa informal colocamos aqui alguns assuntos bem interessantes, e a boa notícia da volta do programa Prelúdio.
NT - Como se sente com a volta do programa PRELÚDIO?
Fico muito feliz com a volta do PRELÚDIO, pois foi uma ideia que havia dado certo por 6 anos. A Fundação Padre Anchieta tem agora profissionais competentes outra vez na direção e é de se esperar boas contribuições à música de nosso Estado.
NT - Quais foram as modificações no formato / estrutura do programa?
O programa volta a ser exatamente como era. O mais convencional programa de auditório, de calouros, com corpo de jurados. Como nos velhos tempos do rádio e da TV. O que o torna algo novo e provocador é o fato de os concorrentes serem jovens músicos brasileiros de música de concerto. E foi aqui que veio a surpresa. A quantidade de jovens se dedicando à carreira é bem maior que eu imaginava. E isso o PRELÚDIO veio demonstrar com clareza.
NT - Qual sua percepção do mercado de música clássica nos últimos 10 anos, considera que os projetos existentes têm ajudado na formação de profissionais e/ou ouvintes para o segmento?
A música erudita no Brasil vai muito bem. Melhor que a popular... Enquanto a mediocridade toma conta da música popular, uma legião de jovens se aproxima da clássica. Todos esses projetos que ensinam música clássica a jovens de periferia, objetivando sua inserção social, acabam por descobrir músicos talentosíssimos que em breve estarão enchendo de boa música nossas salas de concertos.
NT - Na música popular, o que pode ser feito a fim de elevar o nível musical e formar melhores consumidores musicais?
Aqui a situação é trágica. A música popular está tomada por um repertório de baixíssimo nível. As rádios só executam o lixo musical e as TVs abandonaram a música por completo. Nem mais sonoplastia de novelas sabem fazer. A única solução para nossa música é a mesma para todos os outros problemas brasileiros: EDUCAÇÃO. E isso envolve gerações. Infelizmente não é para a nossa.
NT - Em conversa informal você colocou que fora do Brasil "chove" músicos de qualidade e geralmente sem boa colocação no mercado regional. Aqui ainda temos boas oportunidades, mesmo para os nossos profissionais?
Em todo o mundo estão sobrando músicos de altíssima qualidade. Nós precisamos muito deles. Quando criei a Amazonas Filarmônica fiz um teste na cidade e só encontrei 2 músicos bons. Fui buscar 40 fora do Brasil - sobre tudo na Europa Oriental - e em 3 anos havia 4 orquestras jovens na cidade tocando muito bem. Musicalizou-se o Estado inteiro em pouquíssimo tempo. Mais do que médicos, precisamos de músicos para o interior do País. Fora dos grandes centros não há música de qualidade.
NT - Como você difere nossa formação e mercado de absorção destes profissionais com o mercado externo? Compramos ainda a ideia de que o produto estrangeiro é melhor?
Não. O produto estrangeiro não é melhor. É que tempos poucos músicos competentes para as proporções do país. E eles estão no eixo RIO/SP. É possível hoje criar-se a sinfônica de nível internacional só com músicos brasileiros. Mas para as dimensões do Brasil, faltam muitos professores.
NT - Que atividades você tem desenvolvido fora do país, sabemos que tem regido várias orquestras....
Tenho sempre viajado ao exterior para trabalho. A música brasileira é um trunfo que uso para interessar músicos, empresários e orquestras. Nossa música possui um frescor, uma vivacidade que encanta os músicos dos países culturalmente mais estáveis e ligados às suas práticas mais antigas. O Brasil tem muito a oferecer Se tivéssemos no Ministério da Cultura esquemas como os de outros comércios internacionais - como o da carne, por exemplo - seriamos o maior exportador de música do planeta.
NT - Na VOLTA DA MÚSICA ÀS ESCOLAS, percebemos que a maioria dos estabelecimentos de ensino têm contratado profissionais de escolas ou escola par ministrarem as aulas de música, ainda sem conteúdo definido. Qual sua visão sobre esta realidade "momentânea"?
Já disse a você e a teu público o que acho dessa questão. Procurei vários ministros da educação e cultura tentando colocar a eles e às escolas, um projeto prático de ensino musical. Um currículo de 10 páginas com uso de tecnologias modernas eletrônicas no ensino, pois acho a situação trágica em nosso país. Temos que facilitar aos jovens o acesso à boa música já no banco escolar. O que ouvem em casa é lixo sonoro da pior qualidade. Nunca obtive respostas às minhas propostas e não tenho acompanhado o que ocorre no ensino musical atual. Se perdermos a chance de educar os jovens, através do ensino nas escolas, em pouco tempo teremos uma geração de brasileiros imbecilizada pelo som.
por Valéria Forte
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